sexta-feira, 16 de julho de 2010

Revelando-me II

O texto TABACARIA, de Fernando Pessoa, me diz muito sobre mim. Os trechos selecionados são:
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(...)
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não
                                                 [pode haver tantos!
(...)
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda
                                                      [que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades
                                                           [do que Cristo.
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant
                                                                [escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta
                               [ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
(...)
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti,
                                                              [e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido."

Esse poema está em trechos e são os que mais me identifico, mas há versos que me causam medo: "O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão." Não quero só sonhar ou ter razão. Quero sentir que faço algo por mim e por meu habitat. O tempo está passando como um rio. Ok, dirão que só tenho quase 28 anos, e daí?, passa pra mim da mesma forma que pra você. Tenho, ainda, a urgência da juventude, seu frescor, sua ansiedade, força e desejo.
Minha cabeça fica à 1000. Essa juventuda ansiosa me cega de perceber a evolução e, embora tenha descoberto algo bom e que me difere, ainda não sei usar... volta a necessidade do TEMPO e a EXPERIÊNCIA traziada por este.
Não quero crer no tempo, mas ele é importante na nossa evolução; e o poema acima tem o tempo em si todo. Desisto de desistir, VIVA O TEMPO e tudo o que ele no traz. Chega de negações. Revelação!
Outro ponto forte, o trecho em itálico assim está no livro, mas vale o destaque. Buscamos a aprovação dos outros, o que pensam sobre nós, o que queremos que pensem sobre nós. Aviso a todos: SOU O QUE TEM QUALIDADES e o QUE NASCEU PRA TUDO. Sou homem e em cada mão trago uma sacola; em uma, um saco cheio de dúvidas, na outra, um saco transbordando possibilidades.

Beijos a todos.
Livro indicado e bibliografia - Quando fui outro - Fernando Pessoa.

14 comentários:

Anônimo disse...

Mais possibilidades que dúvidas: saldo positivo, portanto.

...No entanto, as questões interessam. Quando fui outro?
Outro fui? Quando?

carmen silvia presotto disse...

Saulo, "desista de desistir", é um grande achado, parabéns, muito bom mesmo... vou seguir com esta consígnia cravada em meu tempo, assim na sacola da dúvida, transporto-me de novas possibilidades!!!

Fico tão feliz quando percebo que as pessoa acreditam no valor da página em branco, da poesia por suas reflexões e se colocam na própria Escritura como uma possibilidade de transformação, que por isso te parabenizo!

Um beijo amigo e companheiro, juntos seremos mais e melhores em palavras e versos que conVersam!

Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br

s a u l o t a v e i r a disse...

É Marcio, alterei um pouquinho e me acho mais possibilidades sim, acho a nós possibilidades, sempre.
Quanto às questões, ainda não tenho respostas, mas tenho sido outro, e até eu mesmo, como disse nossa amiga Jamila Suet.

Beijão grande.

s a u l o t a v e i r a disse...

Amiga e querida Carmen,
"Desistir de desistir" não é criação minha - aprendi num curso de teatro - algo dito já por Grotówski.
Obrigado por parabenizar-me. Mas não consigo fazer lindas poesias como Marcio, você, Patrícia e tantos outros que passam por aqui e que frequentemente visito. Me uso como exemplo, me exponho e lanço a dúvida pra gerar mesmo a reflexão, me tiro do armário afim de que a verdade sempre se apresente. Bem, é a inteção com a única pretenção de produzir o pensar. O resto segue com mais palavras, contos, crônicas e poesias.
Beijo.

carmen silvia presotto disse...

Saulo, obrigada por me ensinares sobre o dizer:"Desisto de desistir", viver é aprender!!!

E a Poesia, a poética, para mim, está em toda a criatividade, uns dizem em verso, outros em prosa, mas todos,com reflexão. dizem poeticamente...

Um beijo

Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br

Canteiro Pessoal disse...

Saulo 'Taveira'. Primeiro seu sobrenome chamou minha atenção no Blog Dias Genéricos, a final de contas, também tenho este sobrenome por parte do meu pai. Será que somos parentes? [rs]

Já sobre seu respectivo Blog, muito me agradou, a qualidade deste seu universo letrativo é exuberante, com certeza farei muitos pousos no Partitura.

Abraços

Priscila Cáliga

s a u l o t a v e i r a disse...

Querida Carmen,
Obrigado por me estimular na escrita, a reflexão, a poesia.
Beijo.

s a u l o t a v e i r a disse...

Cara Priscila,
Bem vinda ao "Partitura". Quanto a sermos parentes, creio que sim, ouvi dizer que a família é uma só. Será um prazer enorme dizer-me parente de uma poeta tão boa quanto você - Adorei teus espaços.
Obrigado pelas doces palavras. Serás bem vinda aqui, no momento de desacnso às tuas asas.

Beijo.

Anônimo disse...

Voltei pra dizer que acho incríveis algumas palavras, Saulo. TRANSBORDANDO, por exemplo, que você usou. Não te dá sensação exata daquilo que diz? Interessante a sensação. Lembro-me de quando a minha me pedia: "Marcio, vigia o leite que está fervendo que é pra não transbordar." Aí acontecia o seguinte: eu ficava o tempo todo olhando e nada (uma eternidade) mas bastava eu me distrair e ele transbordava! rs Necessário atenção, aprendi.
Por outro lado, apesar dos acidentes, é um privilégio estar aqui e presenciar tantos transbordamentos vitais, tanta vida em ebulição, não é mesmo?
TRANS-BORDAR, além disso, é bonito tb pelo "bordar", atividade que exige talento. E você é mesmo muito talentoso, você sabe, aprende tantas coisas, é tão dedicado. Te admiro, entre outras coisas, por isso.
Resolvi dizer.

E só por hora. Se eu sentir mais alguma coisa, volto aqui pra dividir.

s a u l o t a v e i r a disse...

Marcio, enquanto lia o teu post, Bethânia cantava "Tudo o que move é sagrado". Coincidência? Não creio. Esse movimento de vida, esse transbordar bordado sagradamente poético, como minha existência na tua e a tua na minha.
Obrigado, eternamente grato a ti pelos incentivos, bons sentimentos que vês em mim.
Obrigado, Obrigado, Obrigado.

s a u l o t a v e i r a disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Serei propositalmente redundante: vejo o que os meus olhos vêem. Nem mais nem menos.

Canteiro Pessoal disse...

Saulo, ave ara, obrigada, e com certeza absorverei momentos de descanso, bálsamo as minhas asas de fases feridas, 'revelando-me' a composição do adentrar ilógico aos aposentos do Rei que oferta um banquete em letrativo que descasa o casado por embrenho em águas profundas.

Abraços precioso.

Priscila Cáliga

Patrícia Gonçalves disse...

Moço, parabéns e obrigado!

Parabéns pelo texto, pelo transbordar de possibilidades, pela evolução dos passos, pelo crescimento.

Você fala da urgência da juventude, tenho um segredo, essa urgência não é só da juventude, carregamos pela vida, é urgência de vida moço, características de algumas almas mais inquietas.

Parabéns por se olhar no espelho, parabéns pelo encontro!

Beijo grande