Estou fazendo tratamento com fonoaudióloga. Muito legal, reaprender a respirar, falar... aprender a ouvir minha própria voz, admirar esse som que tantos elogiam e que eu mesmo desconhecia ou ignorava sua beleza e potencia, ou até mesmo - é o caso, confessadamente - tenho vergonha de ter algo bom e que me difere dos demais.
É bobo, eu sei, mas
Ah! OK. Tá na hora de abrir o jogo pra mim mesmo e revelar-me.
Sou leonino, vaidoso, adoro chamar a atenção, embora seja muito contido e até tímido, mas gosto, fazer o quê, negar minha natureza? Administrar é legal, negar jamais. Tenho negado muitas coisas na minha vida há algum tempo, e isso tá na hora de acabar.
Adoro o teatro porque gosto de ser centro, de estar em evidência. Adoro a locução porque tem um mistério na voz e mexe muito com a imaginação de todos - quase uma identidade secreta, quando criança queria ser agente secreto, só pra ter um segredo e ser "diferente" dos outros. Começar a assumir características que não são, necessariamente, ruins: vaidades, desejos, diferenças é o começo pra libertar-me dessas amarras. Assumir não é entregar-me aos defeitos, são características, vontades, apenas. Quem disse que não posso me achar bonito ou bonito algo em mim? Quem disse que não posso ser o centro, em cena ou fora dela? Não que seja uma necessidade, mas ocorre naturalmente e não tenho que ter vergonha disso. Esse é o ponto. Não ter vergonha de mim quando sou natural!
Há algum tempo, conversando com meu pai perguntei como estava a família na cidade onde moram, ele, muito sabiamente e num lápso de espontaneidade, respondeu: "estão bem, se melhorar estraga. Não estão acostumados com coisas melhores." Ele não sabe, mas isso foi uma porrada. Eu tenho vergonha de mim porque, apesar de querer ser bom e, naturalmente, melhor que o outro em algo - sempre somos melhores que alguém em alguma coisa e esse alguém melhor que nós em outra - aprendi que a gente não deve se mostrar (não inibir o outro), pelo menos não completamente, e não que isso tenha sido dito, a gente absorve também o que não dizem. Isso que ele falou revela a mim que revelar-me me proporcionará o melhor - melhor de mim e das coisas, me salva do comum. Me lança a querer mais, logo preciso mais de mim, imprescindível autoconhecimento.
As conversas com o Marcio, o teatro, a locução, a fono, tudo tem me trazido pra mim. Li no blog "Vórtice" algo revelador, muitos rirão, mas não é engraçado, embora óbvio: "O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos." (A Angélica Lins foi muito feliz neste post.) Entendo como olhar inteligente um olhar sem preconceitos, sem julgamentos, sem máscaras. É mesmo um "Resgate", como é intitulada a postagem. Estou nesse processo, penso que nunca sairei, ou sairemos, dele; resgatar-me de mim pra mim.
Curioso é imaginar que isso tudo surgiu apenas de um carinhoso pensamento sobre a minha Dr. Fono Kátia Capitoni que me emprestou lindos dvds da Bethânia, que tanto admiro. É dúbio mesmo, estou admirando as duas. rsrs E o post nem era pra me revelar, mas fiquei mais leve. Assumir-me, como faço com tantas outras coisas em mim é sempre bom, embora gere controvérsias sempre.
Ótimo!, a discussão traz evolução. Revele-se, aqui, aí - no próprio blog, ante o espelho, no analista... onde se sentir melhor.
Venho dizendo e vale a pena repetir: seja livre!
Brincando e refletindo X Refletindo e brincando
6 comentários:
Alguns versos do Renato Russo pra ti, Saulo:
"Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto...
E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira
Se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demais
Nunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos...
(...)
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos"
Um beijo e siga em frente.
Saulo, interessante essa sincronicidade, você pede que cada um se revele e eu sem ter te lido postei meu um poema chamado perfil. :)
Saulo, fico feliz pelo seu processo, temos que ter um olhar mais carinhoso conosco, reconhecer nossas qualidades e aplaudí-las, identificar nossos defeitos e corrigí-los (ou não), mas tudo com esse olhar inteligente que a Angélica disse. Sem criticas maiores, sem julgamento, simplesmente um olhar. Você se despir pra você mesmo.
O processo de reconhecimento é difícil e o de aceitação, mais ainda. Mas, boa sorte, você está no caminho certo!
Grande beijo!
Hey, Saulo, te leio e sinto a carga de verdade que resgatas... como é difícil lidarmos com o melhor de nós, hein?
Que bom buscares este sopro vital, esta voz linda, que penso ser teu Estilo, tua expressão, marca e distinção junto a outros.
Um beijo e obrigada por teu relato com ele vamos derrubando as máscaras.
Um beijo carinhoso
Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br
É Marcio,
Tenho apreciado as riquezas que temos. E é bom saber o que não quero, já elimina muita coisa. Obrigado por suas palavras carinhosas sempre.
Patrícia,
Vi o texto em teu blog, lindo e, realmente, de encontro. É, a gente precisa se amar mais, não ser tão algoz de mim mesmo.
Obrigado pela sempre bela presença e palavras aqui.
Beijo grande.
Carmen, minha amiga.
Penso que essa dificuldade que tenho seja decorrente de uma educação mais rígida, até. E livrar-me das amarras anos depois, já habituado e pensando agir certo, não é fácil.
Obrigado pelas lindas palavras, e seguirei derrubando as máscaras.
Beijo com poesia.
Voltei pra registrar mais impressões.
Do negativo, se revela. A foto, o rosto, sem máscaras. Das cinzas, como a fênix ou dos mortos feito o Lázaro.
Re-velação. Re-nascimento.
Beijão.
Se não gostasse de aparecer...
Não seria ator! rsrsr
Me diz que ator não gosta de aparecer?
Ora pois!!
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